Resenha: Deuses Americanos
Deuses Americanos é um livro escrito pelo maravilhoso Neil
Gaiman (autor de outro livro maravilhoso intitulado O Oceano no Fim do Caminho
e da HQ Sandman), um inglês que mora
nos EUA e escreve histórias fascinantes.
Na narrativa acompanhamos Shadow, um cara que está cumprindo
sua pena na cadeia há três anos e, agora, está na hora de voltar para casa,
para sua esposa, Laura. Antes de retornar, Shadow descobre que seu mundo
desmoronou: seu amigo, Robbie, que o receberia para um emprego na academia,
morreu.... e Laura, o amor da sua vida, também. Tirando isso, o que mais ele
haveria de fazer? Qual será seu próximo passo?
Ele conheceu um homem misterioso chamado Wednesday, e já sem
esperanças nem motivações, ele acaba jurando lealdade e proteção a ele, sem
saber exatamente no que estava se metendo e em como isso impactaria seu modo de
vida dali em diante.
Durante o livro acompanhamos o protagonista em suas
aventuras pelos Estados Unidos envolvendo os deuses antigos, deuses nórdicos,
finlandeses, egípcios, hindus, e muitos outros que cruzarão seu caminho. Shadow
também cruzará com os deuses novos como o deus da internet, a deusa da mídia,
da televisão, entre outros. Dessa maneira, Shadow escolhe um lado em uma guerra
com seres poderosos.
O que envolve a narrativa inteira é o suspense, Shadow é uma
pessoa que perdeu o interesse, portanto, ele assiste a coisas bizarras e muitas
vezes nem se dá o trabalho de perguntar, o que acaba nos deixando curiosos, e
é um dos pontos do livro que acaba deixando a narrativa mais interessante e
certamente nos prende à história.
Conforme a leitura avança, a história começa a ficar cada
vez mais interessante pelo fato de a batalha entre os deuses novos e antigos
estar se aproximando e Shadow estar bem no meio disso tudo, um humano em uma
guerra de deuses, mas Shadow parece não se importar com as faíscas da batalha, apenas
com sua lealdade ao misterioso Wednesday, com seu dever.
O livro é muito bom, e não esperaria menos de Neil Gaiman,
cativante e emocionante. Apesar de ser uma fantasia, Deuses Americanos é uma
grande reflexão – e também uma crítica – sobre a sociedade atual, onde nós
veneramos o material e também algo intangível, como a internet. É uma reflexão
sobre como um pensamento pode mudar e, muitas vezes, essa mudança pode ocorrer
muito rapidamente. Ou seja, a efemeridade da sociedade. Mas também sobre a
construção dessa sociedade, Neil Gaiman foca na construção do que hoje chamamos
de Estados Unidos, mas que se estende ao mundo todo. Como a crença em diversos
deuses vindos das mais diversas partes do mundo formou um país e em como, com o
passar do tempo, esses deuses foram sendo esquecidos e substituídos por outros
deuses e em como a adoração pelos deuses é mutável. Nós inventamos algo,
acreditamos nele, para logo em seguida cair no esquecimento e ser substituído
por outra crença.
Neil escreve de maneira fascinante e de fácil entendimento,
ele intercala a narrativa de Shadow e suas viagens pelo mítico Estados Unidos,
com histórias paralelas (ou que aconteceram muitos anos antes) de outros seres e deuses de diferentes mitologias, que
agora vivem em um mundo que se esqueceu quase que completamente deles, os
deixando à mercê de alguns pequenos fiéis ou, até mesmo sozinhos, mendigando
sua própria existência.
A edição que li é a “Edição preferida do autor”, uma versão
expandida. A edição original do livro, que foi lançado em 2001, possuía uma
série de cortes que haviam sido feitos por Gaiman para encurtar o livro e
deixar a leitura mais rápida, mas essa edição lançada aqui no Brasil em 2016
conta com um volume maior e mais próximo do rascunho original, além de contar
com alguns extras (que eu, claramente, amo), como: notas do autor, do tradutor
e uma entrevista com Gaiman.
“Deuses Americanos” (essa edição maior) possui quase 600
páginas – contando com os extras – , mas não se torna cansativo, pelo
contrário, é uma leitura curiosa e empolgante. As minúcias do livro, os
detalhes, possuem um sabor interessante e agradável e são tão cativantes quanto
o enredo, além de serem importantes para a narrativa.
O final do livro consegue se manter no mesmo nível da
narrativa, ou seja, ele não é um final murcho e apressado, e sim algo pensado, trazendo um final emocionante para a aventura de Shadow pelos
Estados Unidos de uma maneira que a gente nunca viu, sem dúvida, um final digno
para a história de “Deuses Americanos”.
“Um suspense
espetacular com um final ao mesmo tempo surpreendente e plausível, permeado por
uma escrita perspicaz e minuciosa”
– Salon
Além da história maravilhosa do livro, ainda há a beleza da
capa e da contracapa e da organização na divisão das partes do livro, que são
introduzidas por uma página preta e escritas em letras brancas.
Um livro que eu mais que recomendo a todos e que certamente
voltarei a ler mais tarde.
Existe uma série homonomia criada por Bryan Fuller e Michael
Green, que está se encaminhando para sua segunda temporada, baseada na história
de Neil Gaiman, que tem Ricky Whittle, Ian McShane, Emily Browning e Gillian
Anderson compondo o elenco. Confesso que ainda não assisti a série, pois queria
ler o livro antes (HÁ! Clássica!), mas pelo que li, a série é bem fiel ao livro
e muito boa. Ela é uma série original do canal Starz e está disponível para ser
maratonada no serviço de streaming
Amazon Prime Video.
PS1: Comprei outro livro de Neil Gaiman na Bienal do Livro
de São Paulo, chamado Mitologia Nórdica, que além de ser de um autor
fantástico, possui uma capa maravilhosa. Alguém já leu?
PS2: Comprei também vários outros livros, então não sei
quando vou ler Mitologia Nórdica, mas pode ser que seja em breve.
PS3: Vou fazer uma resenha sobre a Bienal Internacional do
Livro de São Paulo e qual foi minha experiência no paraíso literário. Vocês
foram? Se sim, o que acharam?
PS4: Chega de PS.
É isso galera, por
hoje é só! Até a próxima!
Título original: American
Gods
Editora: Intrínseca
Nº de páginas: 574
Autor(a): Neil Gaiman
Tradutor(a): Leonardo Alves
Qualquer dúvida,
sugestão, recomendação, mande um email para: resenhandodepantufas@gmail.com
e responderei o mais rápido que puder!
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